====================================================================================================================

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Álvaro Barboza de Oliveira: "Não se pode dar chance a vigarista"

Álvaro Barboza - Crétido Tribuna Independente  GILSON MONTEIRO

"Vigarista e comprador de votos não podem ter segunda chance"

O novo presidente da Comissão de Combate à Corrupção Eleitoral da OAB, Álvaro Barboza, pretende adotar um estilo “linha dura” contra políticos envolvidos em fraudes e outras irregularidades. “Vigarista e comprador de votos não podem ter uma segunda chance”, defende. Para ele, a corrupção eleitoral é uma praga como a pedofilia e deve ser combatida com veemência. Barboza substituirá o advogado Paulo Brêda, que dirigirá comissão análoga em nível nacional.

Logo após o carnaval, a Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OABAL) anuncia a formação da nova Comissão de Combate à Corrupção Eleitoral, com o nome do advogado Álvaro Barboza de Oliveira confirmado como novo presidente, no lugar de Paulo Brêda, que irá comandar a mesma Comissão na OAB Nacional. Nesta entrevista exclusiva à Tribuna Independente, Barboza comenta o saldo da atuação do grupo nas eleições de 2008, com quase 500 denúncias de crimes eleitorais recebidas e cerca de 300 encaminhas à Polícia Federal. Advogado e procurador do Estado, Barboza deverá imprimir um estilo .linha dura. à equipe. .A condição ideal será no dia que a gente ver junto na cadeia o comprador e o vendedor de voto., dispara.

Tribuna Independente - Qual o balanço dos trabalhos da Comissão no processo eleitoral de 2008?

Álvaro Barboza - Foi um trabalho muito intenso, mas que trouxe muitos resultados, tanto que serviu de parâmetro para a criação da Comissão Nacional, que será possivelmente presidida pelo doutor Paulo Brêda. Tivemos um total de quase 500 den úncias, com cerca de 300 encaminhadas à Polícia Federal e ao Ministério Público Eleitoral. O maior percentual tratava de compra de votos. Esse era o .carro-chefe. da maioria das den úncias, a maior parte delas daqui de Maceió. A Justiça não recebe denúncia anônima, mas nós recebemos. Por quê? Para efeito estatístico. Essas 300 denúncias que encaminhamos à Justiça tinham "retrato e CPF". As denúncias foram muitas, mas tem situa ções muito complexas de se comprovar. Pessoas ligavam dizendo que havia uma reunião para comprar voto em determinado bairro, mas não dizia o nome da rua, nada. E há ainda a questão de candidato denunciando candidato.

T.I. - E qual a experiência que o Paulo Brêda levará de Alagoas para a Comissão Nacional?

Álvaro Barboza - Muita coisa. O Brêda foi extraordinário, foi fundamental, uma grata surpresa. Um rapaz jovem mas muito interessado, e que agora foi compensado, chamado para um combate ainda maior, que é o combate à corrupção nacional, porque esta praga é como a pedofilia, não se pode dar segunda chance. A vigarista, ladrão e comprador de consciência não deem outra oportunidade para ele não que ele faz novamente. O povo de Alagoas e do Brasil não pode dar uma nova chance a vigarista e comprador de voto.

T.I. - Ao lidar com os .vigaristas ., a Comissão chegou a sofrer ameaça? O senhor teme alguma represália?

Álvaro Barboza - A Comiss ão nunca recebeu ameaça. Ter medo eu tenho, mas tenho tamb ém coragem para enfrentar essa questão. É um trabalho cívico. A Comissão é um voluntariado que se dispõe a essa atividade. Não se ganha nada com isso. A família fica preocupada, ficamos sem tempo, mas também recebemos muito apoio, que é isso que precisamos, principalmente da população.

T.I. - No trabalho de combate à corrupção, não se tem a sensação de estar .enxugando gelo . ? Sempre surgem novas modalidades de se burlar a lei...

Álvaro Barboza - Surgem sim. Os sem vergonhas sempre estão querendo fazer com que um processo, que está dando certo, fracasse. Porque acabaram aqueles truques de usar carbono, entre outros, então eles criam novas formas. Durante os trabalhos ficamos sabendo de pessoas que compravam voto de madrugada. Você já pensou uma pessoa aliciando eleitores, comprando consciências às três horas da madrugada?

T.I. - Qual será seu estilo à frente da Comissão?

Álvaro Barboza - A nomea- ção só sairá depois do carnaval Até lá .estou. na presidência. Mas uma ação principal será investirmos no processo educativo. Vamos incentivar os convites por parte das entidades, associa- ções, pelas ONGs, pela Igreja, para tentar fazer um processo educacional. Isso não exclui o processo da punição. A condição ideal será no dia que a gente ver junto na cadeia comprador e vendedor de voto. Que cena bonita, não? Seria ótimo. Estamos perseguindo isso.

T.I. - A sensação de impunidade ainda é o grande incentivo para o crime eleitoral?

Álvaro Barboza - Pela impunidade, pela desesperança. Muitos [políticos] pensam que será sempre assim. Mas digo que não será sempre assim. Não foi, não está sendo e nem será sempre assim. Já temos pessoas punidas, e isso satisfaz quem fez esse trabalho. Isso nos dá esperan- ças. Mas claro que não teremos um bocado de anjos concorrendo às eleições. Temos pessoas que tradicionalmente querem resolver no trabuco, na compra de votos, no aliciamento, para manter sua posição política, para não ser alcançado pelo braço da Justiça, que é lento. Mas tamb ém temos avanços. Ainda não temos um processo eleitoral plenamente consolidado porque os compradores de alma, os compradores de consciência, enfim, os vigaristas insistem em comprar voto, para desqualificar o processo, para não ter o compromisso da mudança. Temos avanços, e graças à união de forças. Trabalhamos juntos com a Justiça. Estaremos irmanados, mas também faremos cobrança daquilo que encaminharmos. Uma satisfação não para a gente, mas para a sociedade. O povo quer respostas, e o Poder Judici ário ainda é lento nessa resposta.

T.I. - O projeto que prevê a suspensão de candidatos com .ficha suja. na Justiça deverá demorar a virar lei. Essa morosidade é intencional por parte do Congresso Nacional?

Álvaro Barboza - É. Isso não é do interesse de quem está lá [no Congresso]. Ainda não temos uma representação compromissada com o processo democrático, com a viabilização de um processo eleitoral limpo. Eles não têm compromisso com isso. Eles têm compromisso com eles mesmos, com a mãe dele, com a mulher dele, com o parente. O que eles querem é se beneficiar e o povo que se exploda. Esse projeto é outra experiência fundamental. É um projeto de iniciativa popular onde foram encaminhadas mais de uma bilhão e trezentas mil assinaturas. Concordo que a atuação da Ordem na coleta de assinaturas [em Alagoas] não foi a melhor do Brasil, tínhamos essa Comissão que precisava consolidá-la.

T.I. - Apesar do grande volume de denúncias à Comissão nas eleições passadas, a popula ção ainda tem muito medo de denunciar crimes eleitorais? Como foi o trabalho no interior do Estado?

Álvaro Barboza - A população ainda tem muito medo de denunciar, mas está perdendo. Fomos bem recepcionados, mas a questão é que para a Comiss ão é mais fácil. Vamos lá [no interior], fazemos nosso trabalho e voltamos. E quem fica lá, com as figuras que nós temos? Figuras ameaçadoras, que só querem resolver no trabuco e não acreditam no diálogo.

T.I. - Este ano, a Comissão vai se basear novamente no mapa da corrupção eleitoral?

Álvaro Barboza - Sim. Não podemos divulgar para não alertar os vigaristas. No dia da eleição nós deslocamos entre 80 e 100 advogados e fechamos esses pontos. É um mapeamento fundamental, e nos foi fornecido pelo TRE-AL. Se não conseguimos cobrir 100% desses gargalos de corrupção eleitoral, com certeza 80% nós conseguimos.

T.I. - E quando a Comissão começa a trabalhar visando às eleições 2010?

Álvaro Barboza - Bem, vamos deixar primeiro esse processo de nomeações sair. O trabalho dessa Comissão vem a responder um chamamento de alguns setores da sociedade, inclusive da imprensa, que tem feito um trabalho extraordinário. Nosso objetivo é um processo limpo, combatendo esses compradores de almas e de consci ências, que são eles o nosso foco, que é atacar esse pessoal para tentar aproximar os candidatos em igualdade de participa ção no pleito. Porque a Comiss ão não é contra político, ela é contra o vigarista comprador de voto. Contra esse, ela [a Comiss ão] vai estar sempre alerta, claro que, com o apoio da Justi ça Eleitoral, da Polícia Federal, do Ministério Público Eleitoral, dos juízes eleitorais, entre tantos outros.

T.I. - Comissões como esta da OAB atuam no combate à corrupção. E a quem cabe a prevenção?

Álvaro Barboza - A prevenção caberia principalmente ao cidadão: Ver e denunciar. Hoje temos diversos canais para fazer isso, a Comissão é um deles. Temos aí o Tribunal Regional Eleitoral, Ministério Público, e tantos outros que estão atentos.

Fonte: Tribuna Independente

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia as regras: ofensas pessoais, ameaças e xingamentos são terminantemente inaceitáveis. Tais condutas contrariam todos os objetivos e princípios que norteiam este canal democrático de informação. Comentários anônimo não serão aceitos sem um E-mail valido.

============================================================
============================================================

AS MAIS ACESSADAS