Em seu novo livro, o consultor de empresas Ricardo Neves analisa a classe política com os mesmos critérios de avaliação usados para empreendedores ou executivos de grandes empresas
ALEXANDRE MANSUR
O Brasil tem meio milhão de políticos. São 64 mil em cargos eletivos, do presidente ao vereador. Mais quatro vezes isso se incluir assessores e secretários com poder. E 380 mil candidatos a prefeito e vereador. Essa numerosa classe, que conquista o poder graças a nosso voto e pode definir nosso destino, é o foco do novo livro do consultor de empresas Ricardo Neves. Ele decidiu olhar a classe política com os mesmos critérios que avaliamos os empreendedores ou executivos de grandes empresas. Eles estão preparados para lidar com o mundo atual? É isso que Neves responde em Ruptura – o desafio de inovar para reinventar a política(Editora Singular).
É o quinto livro de Neves, que trabalha como consultor de empresas e organizações internacionais de desenvolvimento (como o Banco Mundial e agências da ONU) e que foi colunista da revista ÉPOCA entre 2006 e 2008. O livro (R$ 29) chega às lojas no dia 16 de novembro. Também está disponível em versão eletrônica (R$ 15,90).
Segundo Neves, os políticos são atraídos por dois motivos contraditórios. Um é egoísta: encontrar uma coisa para fazer na vida que resolva seus problemas pessoais. O outro é mais altruísta: participar da vida pública buscando encontrar soluções para os problemas da sociedade. Porém, mesmo esses bem intencionados precisam encarar os desafios do mundo atual, movido por revoluções tecnológicas, decidido pelo valor do conhecimento e limitado pelo esgotamento dos recursos naturais. “Acredito que nessa década teremos chance de ver a emergência de uma nova geração que sucederá os dinossauros que lutaram na resistência à ditadura militar iniciada em 1964”, diz Neves. É o que ele conta na entrevista abaixo:
ÉPOCA - Você diz que o Brasil tem 500 mil políticos, sendo 70 mil com a maior parte do poder. Quem são eles?
Ricardo Neves - Os cargos públicos que necessitam de votos dos cidadãos no Executivo e Legislativo são exatamente 64.788 contabilizados aí desde o presidente da república, governadores e prefeitos e respectivos vices; senadores, deputados e vereadores. Se você considerar os coadjuvantes da política – que incluem os dirigentes das máquinas partidárias, ministros, secretários estaduais e municipais das 5.565 cidades e 27 estados,e ainda assessores diretos – o número de gente que gravita entorno da política mais do que quintuplica. Nas eleições de prefeitos e vereadores de 2008 foram 379.751 candidatos registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Considerando esses números não é exagero considerar algo como meio milhão de brasileiros fazendo da atividade política um centro de gravidade importante de suas vidas.
ÉPOCA - O que atrai essas pessoas para a política? O que eles querem?
Neves - Em minha opinião existem dois motivos principais e contraditórios. Um motivo é altruísta: participar da vida pública buscando encontrar soluções para os problemas da sociedade como um todo. O outro motivo é encontrar uma coisa para fazer na vida que resolva seus problemas pessoais. Esses motivos estão misturados para qualquer pessoa que entre na política. Existem casos extremos. Num pólo aqueles dotados de espírito genuinamente republicano e no outro extremo oportunistas e demagogos e aqueles que entram na política entendendo-a como forma de se dar bem. É depois disso, entendo eu, que vem a escolha ideologico-partidária. É assim que, na democracia contemporânea brasileira de massas, não vejo um partido como sendo “o” do bem e outro como “o” do mal. De qualquer maneira, as pessoas que entram na política, independente de sua mistura de motivos – verdadeiros, genuínos, e algumas vezes incofessáveis – compartilham o sentimento de que a política é um palco cada vez mais iluminado pelo escrutínio da opinião pública, da mídia e do conjunto das instituições cívicas.
ÉPOCA - O nível de instrução entre os políticos é baixo?
Neves - É ilusório pensar que o baixo nível da política resulta da baixa instrução. Quando olhamos os números: na eleição de 2008, mais de um quinto dos candidatos a vereador tinha ensino superior completo e no caso dos prefeitos, mais da metade. Considerando ensino superior ou ensino médio, o percentual dos candidatos a vereador atingia mais da metade e, no caso dos prefeitos, esse percentual pulava para mais de 80 por cento. O problema na política não está no nível de escolaridade.
ÉPOCA - Como um nível de instrução baixo afeta o desempenho do político eleito? Ele não representa uma população também de nível de instrução baixo?
Neves - Gosto de salientar que, mais importante que nível de instrução – anos de educação formal – é mais eficaz falarmos em nível cultural dos candidatos, entendendo aí a capacidade de indivíduos de realizar julgamento, de avaliação de questões complexas envolvendo a sociedade e de expressão, em termos da competência em comunicar-se com seus pares. Você pode ter gente com alto nível de instrução ou escolaridade se está ser uma pessoa ignorante como ser humano em termos de valores e em termos de horizontes culturais. Um outro quesito tão importante quanto nível cultural é certamente a inteligência emocional, que faz a diferença nos momentos em que enfrentamos crises. Infelizmente não existe um sistema melhor que o jogo democrático para aferir e escolher as pessoas. É isso que está aí: elas se apresentam como candidatos e a sociedade escolhe. É errado achar que teríamos um sistema melhor se fosse exigido Ph.D. como qualificação para entrar na política. Conheço seres humanos que tem titulação altíssima como especialistas em ciências ou finanças, por exemplo, e são verdadeiros boçais como seres humano. Conheço pessoas alfabetizadas e que exercem atividades sem prestígio social – camelôs, operários, biscateiros, etc. – que demonstram uma sabedoria invejável e que poderiam se aventurar na política e serem capazes de lidar de forma positiva com a coisa pública.
ÉPOCA - Os brasileiros merecem os políticos que elegem?
Neves - O problema é mais da sociedade e do que ela espera da política do que dos candidatos que se apresentam e os que são eleitos. A sociedade está pagando um alto preço ter estigmatizando a atividade política nas últimas gerações desde o final do golpe de 64. Ao agir dessa forma os talentos promissores para atuar no jogo político são ainda jovens direcionados para outras atividades que são vistas como de maior prestígio social e mais imediatamente rentáveis. Pergunto aos amigos de minha filha de 16 anos, que votou pela primeira vez nesta eleição, se algum deles gostaria de “entrar na política” e todos são unânimes em me olhar de forma reprovadora como se eu estivesse perguntando se eles considerariam entrar no crime. Sobretudo os pais da antiga classe média, aqueles que tiveram mais anos de escolaridade, que tiveram acesso ao ensino superior, incorreram em um tremendo erro ao não educarem seus filhos do ponto de vista de maior participação e engajamento cívico. Assim a sociedade brasileira está colhendo aquilo que Platão já dizia há quase dois mil anos: “O castigo imposto aos que seu julgam muito talentosos para se ocupar da política é serem governados exatamente pelos que são considerados menos qualificados”.
ÉPOCA - Se as pessoas rejeitam a política, quem está se candidatando?
Neves - Com a atividade cívico e política tão estigmatizada pelos auto intitulados “bem-pensantes” criou-se um vácuo ocupado por dois tipos de atores que entram com cada vez maior frequência na política. Por um lado pelas celebridades aposentadas – ex-jogadores de futebol, ex-BBBs, estrelas decadentes,etc. Por outro lado uma classe popular em ascenção que descobriu que a política pode ser uma atividade onde não há nenhuma métrica de qualificação; uma atividade onde ser bom de comunicação é o mais importante dos quesitos. Sobretudo se você for capaz de dizer às pessoas aquilo que elas querem e gostam de ouvir. Assim a democracia sofre com o inchaço da oferta de demagogos e oportunistas.
ÉPOCA - Por que é preciso inovar a forma de fazer política? Isso vai acabar com a corrupção?
Neves - Sem talentos para lidar melhor com questões de cada vez maior complexidade e, sobretudo, sem talentos criativos e inovadores a atividade política torna-se sonolenta, burocrática e uma mera luta pelo poder. A democracia, não apenas no Brasil mas no mundo inteiro, vive um momento de letargia. A troca de candidados tornou-se no mundo inteiro nas últimas duas gerações no jogo da troca do seis por meia dúzia. A atividade política se tornou muito mais luta pelo poder do que a concreta resoluçao de questões do connjunto da sociedade. Os marqueteiros foram chamados para vender os políticos como sabonetes para massas muito mais entretidas por esportes, games e consumos e aí se fechou o círculo vicioso. Isso é mais grave ainda porque a década que estaremos começando em janeiro será um tempo de acentuada ruptura com o mundo pós-industrial.
ÉPOCA - Como assim?
Neves - Estamos começando tempo de uma sociedade digital global. Um tempo que necessitaremos de novas respostas para as novas perguntas. Na questão da sustentabilidade, no campo da geopolítica global, nas questões demográficas, um mundo onde o nome do principal vínculo de trabalho entre pessoas e empresas vai deixar de ser emprego e vai se chamar tornar projeto, um mundo onde as pessoas vão ter que mudar de mentalidade queiram ou não, etc. Essas sérias e dramáticas questões, que no seu conjunto chamo de “megainflexões estratégicas” vão deixar o mundo do século XX um passado tão remoto quanto os tempos da Revolução Francesa estão de nós. E isso vai demandar uma enorme capacidade de inovar na política.
ÉPOCA - E a corrupção?
Neves - A corrupção em si não vai acabar nunca. A corrupção é como um vício humano, como ciúme, como inveja. É outro erro dizer que o problema da democracia brasileira é a corrupção. Nossa questão é da melhoria da governança, que é a capacidade de prestar contas e ter transparência. Acreditem ou não, avançamos muito na governança. Temos, volta e meia, escorregões que nos são impostos por governantes de plantão. Mas a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, pesos e contrapesos das instituições democráticas teem predominado. De qualquer forma podemos avançar muito mais ainda na melhoria da governança. Nisso a rotatividade do poder é fundamental. Por isso eu mesmo, independente da performance de um determinado governante ou partido, muitas vezes opto por votar na oposição, como oportunidade de “dar e cortar o baralho novamente”. Uma espécie de reset.
ÉPOCA - Por que as estratégias que o RH das empresas usa na gestão de pessoas ajudaria na política?
Neves - As empresas de vanguarda já consideram que o mais importante dos recursos, não é seu tamanho, sua pujança econômica, sua capacidade de levantar fundos no mercado, mas sua capacidade de inovar. A inovação vem da capacidade de conquistar os mais criativos talentos e dar a eles um sentido de orientação e a alinhamento. O RH tradicional, aquele cara que cuidava do Departamento de Pessoal, que era o boa-praça que uma vez por ano sentava com os sindicalistas para convencê-los a fazer um dissídio amigável, está aposentado nas empresas de vanguarda. Nessas o RH passa a ter um posicionamento mais estratégico. Conquistou uma posição mais alta junto aos seus outros pares, como o diretor financeiro, o de marketing, o industrial. O RH de vanguarda é visto como o gestor de talentos estratégicos. Ele é o cara que caça no mercado cabeças, talentosas, criativas, inovadoras; que procura as melhores condições de reter esses indivíduos; de nutrir seu trabalho em equipes, de impedir que a concorrência os roube facilmente. É dentro dessa perspectiva do RH estratégico que os dirigentes dos partidos devem começar a caçar talentos inovadores e criativos – mais do que celebridades – e conquistá-los para o jogo da política. Sem isso a política vai descambar ainda mais. Vamos ficar nos Tiriricas, jogadores de futebol aposentados, ex-BBBs, Clodovis, estrelas de TV, etc. Podem até ser boas e bem intencionadas pessoas. Mas desse mato não sai coelho!
ÉPOCA- Como pensar em era do conhecimento quando não temos educação básica de qualidade?
Neves - As chaves da entrada bem-sucedida na era do Conhecimento não são simplesmente uma educação básica muito melhor do que a que está aí. Precisamos de algo drasticamente diferente. A educação básica tradicional capacitava as pessos para serem meros zumbis-procuradores- de emprego, prontos para serem postas de lado em termos produtivos aí por volta dos sessenta anos. Muitos dos caras ultra-bem-sucedidos da infância da Era do Conhecimento sequer teem diploma de curso superior, como é o caso de Bill Gates, Steve Jobs, Michael Dell. Não é que a escola em si não seja mais necessária. É que ela traz a qualificação ajustada para uma sociedade pós-industrial que agoniza. O ensino que vai fazer a diferença é aquele que desenvolve talentos e nutre vocações. E esteja certo que o ensino nos tais países desenvolvidos plenamente está tão em crise quanto o nosso. Eu sustento que a construção dessa teia sistêmica de qualificação permanente das pessoas, não apenas para os jovens mas para todos os que estejam vivos na sociedade, sejam velhos, crianças, aposentados, já diplomados, empregados, desempregados é o xis da questão. Aos políticos vai caber traçar as estratégicas para diversificar, maximizar e sofisticar a capacidade de aprender e qualificar dos indivíduos. Isso, mais do que a gestão da macroeconomia ou da política industrial, vai determinar a competividade de uma nação.
ÉPOCA - Como tornar o setor público mais eficiente sem ceder às pressões dos sindicatos? Eles têm poder para derrubar candidatos ou políticos em exercício.
Neves - Os sindicatos, sejam de patrões ou de empregados, até certo ponto são instituições muito dúbias no contexto do jogo democrático. São perigosamente ameaçadoras, pois tentam fazer com que as pessoas de forma geral acreditem que a razão deles e de seus associados deva ser a razão da sociedade. No Brasil avançamos muito no amadurecimento das instituições da democracia nos últimos vinte anos. Por isso, dificilmente vejo a sociedade brasileira se tornando refém de um movimento sindical. O que não impede que possa ocorrer a queda de um ou outro político ou candidato.
Fonte: revistaepoca.globo.com
caro edsom ja que estamos falando em corrupção segundo materia public pelo home ig útimo segundo em 06\11\2010 as 18:28hs o ministerio publico de alagoas apresentou nesta sexta feira denúncia contra quatro politicos do estado por improbidade administrativa.Geraldo Novais Agra Filho(o neguinho)prefeito de Carneiros, Siloe de oliveira moura, prefeito de Senador rui palmeira, josé antonio cavalcante, ex prefeito de São jose da tapera, e paulo sergio vieira o "tarzam", vereador em carneiros, são acusados de crimes de peculato, fraudes em licitações e formação de quadrilha. de acordo com o promotor Luiz Tenorio Oliveira, os prejuizos já indentificados chegariam a mais de R$ 270 mil no município de carneiros, R$ 116 mil em Senador rui palmeira e R$ 115 mil na cidade de São jose da tapera. o( gecoc). grupo de combate a organizações criminosas do ministério público estadual de Alagoas solicitou à justiça a expedição de mandados de busca e apreensão e de prisões para conseguir desbaratar a suposta organização criminosa. Os acusados vão responder ao processo em liberdade.
ResponderExcluircaro Edson sobre CORRUPÇÂO EM CARNEIROS juntamente com as ações propostas contra os prefeitos de CARNEIROS e Senador Rui Palmeira, além do ex prefeito de São José da Tapera e do vereador de Carneiros, o MPE, atrav,es do promotor Luiz Tenório, ainda propôs Ações Civis de responsabilidade por Atos de improbidade Administrativa contra Rejane Oliveira Silva Nascimento "Rejane Moura"Secretária de educação de Senador Rui Palmeira, e MARIA LUCIA VILELA FERREIRA AGRA "LUCINHA VILELA" ex secretária de educação de CARNEIROS, em razão das mesmas terem confeccionado documentos púlblicos FALSOS com a intenção de favorecer matriculas de candidatas aprovadas no ano de 2007 no vetibular da Universidade Aberta do Brasil- UAB, realizado em Olho d'Água das Flores. Edie.nogueira@hotmail.com
ResponderExcluirPrezado Edson ainda sobre CORRUPÇÃO segundo matéria public.em O jornal de Alagoas 05-11-2010 as 09:52hs conforme já apurou o ministério público ( MPE), durante aquele período, os processos licitatórios naqueles municípios não passavam de "um jogo de cartas marcadas", contando com a conivencia dos integrantes das respectivas comissões de licitações, fraudaram licitações, apontando como vencedoras as empresas: Epreiteira Santos Ltda e Empreiteira Vieira Ltda, ambas pertencentes ao empreiteiro "Tarzam", a fim de que eles próprios pudessem se locupletar com recursos públicos daqueles municípios,em profundo prejuízo à municipalidade, a qual se viu privada de ações efetivas tendentes a melhorar a qualidade de vida das suas respectivas populações
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