Ao se lançar pela segunda vez na disputa pela Presidência da República, o candidato do PSDB, José Serra, defende um Estado mais ativo e menos obeso para fazer o Brasil avançar
ALBERTO BOMBIG, GUILHERME EVELIN E HELIO GUROVITZ
José Serra começa sua nona campanha eleitoral – a segunda em que disputa a Presidência da República – com a confiança em alta. O embate contra a ex-ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT, escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, promete ser dificílimo. Mas Serra exibia, dois dias antes de ser aclamado como o candidato do PSDB, a segurança dos políticos calejados. “Aprendi com a derrota. Aprendi com a reflexão. Aprendi com a prefeitura. Aprendi com o governo de São Paulo. Eu me considerava preparado em 2002. Mas hoje estou mais preparado”, disse Serra, na entrevista que concedeu a ÉPOCA, na última quinta-feira.
Essa confiança é alimentada pelas pesquisas eleitorais. Elas apontam uma preferência sólida de 35% do eleitorado, praticamente inalterada desde o ano passado.Alimenta-se também da longa trajetória de quem começou como líder estudantil e chegou a governador de São Paulo – último de seus cargos – e já enfrentou todo tipo de situação numa carreira de quase 50 anos. “Eu me considero preparado para esse desafio. É algo para o qual eu talvez tenha me preparado a vida inteira. Mas você se candidatar e chegar à Presidência, além de uma decisão pessoal, envolve muito destino.” Na entrevista, além de dizer o que espera da campanha – um debate sobre o futuro do Brasil –, Serra revelou suas ideias sobre temas tão variados como o papel do Estado, educação, saúde, autonomia do Banco Central, política econômica, aborto e descriminalização da maconha.
ÉPOCA – O que o credencia para presidir o Brasil? Por que um brasileiro deve votar no senhor?
José Serra – Eu me considero preparado para esse desafio. É algo para o qual eu talvez tenha me preparado a vida inteira. Mas esse não é um julgamento meu. É um julgamento feito pelos partidos e pelas pessoas. Passa por outras instâncias, no nível político e no nível da sociedade. Você se candidatar e chegar à Presidência, além de uma decisão pessoal, envolve muito destino.
ÉPOCA – O senhor acha que o destino o encaminhou para a Presidência?
Serra – Pelo menos para ser candidato, sim. Agora, a eleição é o momento da surpresa, sempre.
ÉPOCA – O senhor está entrando agora em sua segunda campanha presidencial.
Serra – Minha nona eleição.
ÉPOCA – O que mudou em relação à última campanha presidencial, em 2002?
Serra – Aprendi bastante desde lá. Aprendi com a derrota. Aprendi com a reflexão. Aprendi com a prefeitura, aprendi com o governo de São Paulo. Para mim, a vida é um constante processo de aprendizado. Eu me considerava preparado em 2002. Mas hoje eu estou mais preparado que em 2002.
ÉPOCA – O senhor foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), deputado constituinte, senador, ministro, prefeito, governador. Essa longa trajetória o preparou para essa candidatura?
Serra – Eu já disse mais de uma vez que carrego comigo tudo aquilo que eu fui. Eu trago as pessoas de minha época em meu imaginário. Eu não tenho nenhum mal-entendido com meu passado. Eu carrego comigo a infância, numa vila operária, meu pai trabalhando todos os dias do ano, exceto no dia 1º de janeiro. Era uma vida modesta. Era filho único, o que me permitiu estudar. Depois, vivi a minha vida universitária e a política estudantil com muita intensidade, pois era um momento agitado da vida brasileira. Na época da UNE, tive uma convivência estreita com a grande política do país e conheci todo o Brasil. Depois, foram 14 anos afastados do Brasil, 13 no exílio. Do exílio, via o Brasil como um todo. Tive minha formação acadêmica, minha vida de professor e pesquisador. Diga-se de passagem, eu vivi dois exílios: o do Brasil e o do Chile, porque lá eu fui preso e acabei sendo exilado ao quadrado. Eu voltei para o Brasil ainda a tempo de participar da batalha da redemocratização. E aí tem essa trajetória que você aponta: secretário, deputado constituinte, coordenador do programa de governo do Tancredo. Então eu acho que colhi ao longo da vida muita experiência política administrativa e, ao mesmo tempo, muita vivência daquilo que é o Brasil.
"O tema da eleição é o futuro, não é o passado. O Lula não é candidato, e a Dilma não é o Lula. O importante agora é ter condições de avançar. Que o Brasil pode mais, eu tenho certeza. O problema é como fazer"
DESAFIO
O presidente Lula, em Brasília. Serra vai tentar se apresentar aos eleitores como o melhor para o período pós-Lula
ÉPOCA – Nesse período, sua visão do Brasil mudou bastante, não?
Serra – Tudo mudou, né? No Brasil, no mundo... O que não mudou é minha disposição de me dedicar à vida pública e de lutar para que o Brasil seja um país que ofereça oportunidades para sua população. O que os brasileiros querem? É ter mais oportunidades na vida. Isso é o essencial.
ÉPOCA – O senhor é candidato da oposição a um governo com altíssimos índices de aprovação, segundo as pesquisas. Como convencer o eleitor a votar no senhor?
Serra – O tema da eleição é o futuro, não é o passado. As pessoas vão eleger quem vai dirigir o país nos próximos anos. O Lula não é candidato, e a Dilma não é o Lula. Tem a Marina (Marina Silva, candidata do PV), que é uma novidade. Nós vamos dar um passo para o futuro a partir de um diagnóstico atual sobre o que pode ser feito para o Brasil ter mais. Basicamente isso.
ÉPOCA – Qual é sua avaliação sobre o governo Lula? Foi um avanço para o país?
Serra – Trouxe alguns avanços, sim. Acho que, por exemplo, foi bastante ágil durante a crise internacional.
Fonte: revistaepoca.globo.com
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