Comerciante Obadias Vieira e ex-prefeito Valmir Melo representaram a cidade de Carneiros
Por alagoasnanet.com.br
Realizamos, nesta Sexta-Feira Santa, a Segunda Caminhada pelo Sertão; evento idealizado, ano passado, pelo santanense professor João Tertuliano, da Unidade Acadêmica de Física do Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), pesquisador e ativista na luta pela preservação do meio ambiente,
A Primeira Caminhada contou com um grupo de oito pessoas. Partimos de Santana do Ipanema em direção à cidade de Carneiros, com o propósito de observar fenômenos naturais e fatores que interfiram direta ou indiretamente no equilíbrio ecológico da região. O objetivo seria compreender as mudanças ocorridas nos últimos tempos em relação às diversas formas de vida da zona rural de nosso sertão.
Tomando como base o feriadão, decidimos realizar a Segunda Caminhada, desta vez fazendo outro percurso: partimos da cidade de Carneiros, às 08h00, com destino a Senador Rui Palmeira. Antes da partida fizemos um lanche básico, recepcionados pelo amigo Valmir Melo e família, grandes incentivadores do evento.
Ano passado percorremos 23 km, este ano foram apenas nove, mas não menos proveitosos, além do prazer que nos proporciona.
Alguns companheiros da caminhada anterior não puderam nos acompanhar, por motivos diversos; porém novos parceiros surgiram, e pudemos desfrutar momentos de rara satisfação.
Participaram desta Segunda Caminhada pelo Sertão: o professor João Tertuliano, Sérgio Soares Campos (funcionário público), Hélio Moura Filho (pernambucano, cinegrafista da Fundação Joaquim Nabuco e professor de Biologia), Paulo Barbosa (técnico em eletrônica e comunicação), Elvis Agra (técnico em informática - provedor de internet), Chico Santos (radialista, compositor e cantor de forró pé-de-serra), Albadias Vieira de Melo (comerciante), Cícero Bento Filho (mestre de obras), e Maria da Paz (professora de Lógica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Em 1938, o alagoano Graciliano Ramos lançou um dos melhores livros para quem deseja conhecer a problemática do sertanejo. O velho Graça testemunhou e registrou questões relativas ao flagelo da seca: fome, perversidade contra o trabalhador rural, o êxodo do povo em busca da sobrevivência; o sofrimento de seres humanos e animais, entre outros temas por ele abordados, retratando o Sertão e a vida do sertanejo nordestino.
O que mudou desde então?
"A caatinga vem perdendo por ano uma área de sua vegetação nativa equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo, revelou o primeiro monitoramento já feito sobre esse bioma. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, resta pouco mais da metade --53,62%-- da cobertura vegetal original típica do semiárido nordestino. (...) Bahia e Ceará concentram mais da metade do desmatamento medido pelo ministério no período mais recente, até 2008. O município de Acopiara (CE) lidera o ranking. Em Alagoas, o ritmo foi menor, mas restam poucas áreas preservadas no Estado." (Folha Online, 3/3/2010 -http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u701579.shtml)
Infelizmente essa caminhada não nos mostrou muita mudança, para melhor, tomando por referência os relatos de Graciliano Ramos, em Vidas Secas. O narrador falava de um animal bastante conhecido dos sertanejos e que já saciou a fome de muitos: "Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto". E tanto o ano passado quanto nessa caminhada, não tivemos a oportunidade de presenciar um só animal silvestre. Levando em consideração que nossa fauna foi, num passado não muito remoto, rica em várias espécies, como, por exemplo: papagaio, tatu, guaxinim, ema, macaco-prego, camaleão, gato-do-mato, além da grande diversidade de pássaros que aqui existia; espécies que hoje só podemos apreciar em cativeiro, engaiolados, para deleite do "proprietário", ou criados para o abate, com ou sem autorização do Ibama.
Pelo visto, as diretrizes para combater o tráfico de animais silvestres do semi-árido nordestino têm como base a extinção dos animais.
A quantidade de terras desmatadas na área percorrida assusta o observador mais atento, que tenha referências sobre a vegetação existente em outras épocas. Os caminhantes também perceberam que existe um considerável número de casas desocupadas. Alguns moradores que ainda insistem em permanecer na região nos revelaram que muitos de seus vizinhos mudaram-se para a zona urbana, em busca de "dias melhores".
O grupo de caminheiros foi recepcionado carinhosamente pelo prefeito de Senador Rui Palmeira Siloé Moura, que se mostrou bastante sensibilizado com aquela atitude, principalmente por ser feriado, quando as pessoas, geralmente, preferem ficar em casa e descansar das atividades rotineiras. Siloé também relembrou as muitas vezes, nos anos 1960, que teve que caminhar de Santana do Ipanema, à noite, depois de chegar da capital, até o povoado de Riacho Grande, hoje Município de Senador Rui Palmeira, pois sabia que no dia seguinte não teria transporte.
Ao tomar conhecimento de que a próxima caminhada deverá partir de sua cidade, Siloé nos informou que irá participar, pois considera este um evento importante para conhecermos ainda mais o nosso sertão e nos dedicarmos à preservação de nossa fauna e flora, patrimônios que Deus entregou aos nossos cuidados.
Caminheiros do Sertão
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